domingo, 23 de março de 2008

POESIA DE FERNANDO PESSOA
Uma das muitas poesias desse mestre da literatura mundial, me remete a uma reflexão do cenário político contemporâneo de Campos dos Goytacazes.
Adiamento Depois de amanhã, sim, só depois de amanhã... Levarei amanhã a pensar em depois de amanhã,E assim será possível; mas hoje não... Não, hoje nada; hoje não posso. A persistência confusa da minha subjetividade objetiva, O sono da minha vida real, intercalado, O cansaço antecipado e infinito, Um cansaço de mundos para apanhar um elétrico... Esta espécie de alma... Só depois de amanhã... Hoje quero preparar-me, Quero preparar-me para pensar amanhã no dia seguinte... Ele é que é decisivo. Tenho já o plano traçado; mas não, hoje não traço planos... Amanhã é o dia dos planos. Amanhã sentar-me-ei à secretária para conquistar o mundo; Mas só conquistarei o mundo depois de amanhã... Tenho vontade de chorar, Tenho vontade de chorar muito de repente, de dentro... Não, não queiram saber mais nada, é segredo, não digo. Só depois de amanhã... Quando era criança o circo de Domingo divertia-se toda a semana. Hoje só me diverte o circo de Domingo de toda a semana da minha infância... Depois de amanhã serei outro, A minha vida triunfar-se-á, Todas as minhas qualidades reais de inteligente, lido e prático Serão convocadas por um edital... Mas por um edital de amanhã... Hoje quero dormir, redigirei amanhã... Por hoje, qual é o espetáculo que me repetiria a infância? Mesmo para eu comprar os bilhetes amanhã, Que depois de amanhã é o que está bem o espetáculo... Antes, não... Depois de amanhã terei a pose pública que amanhã estudarei. Depois de amanha serei finalmente o que hoje não posso nunca Só depois de amanhã... Tenho sono como o frio de um cão vadio. Tenho muito sono.Amanhã te direi as palavras, ou depois de amanhã... Sim, talvez só depois de amanhã.. O porvir... Sim, o porvir.. Fernando Pessoa

2 comentários:

xacal disse...

Caro Vitor...
Oportuníssimo e belo poema...

Anônimo disse...

só amanhã,hoje não!