segunda-feira, 5 de novembro de 2007

CONHEÇA OS DIFERENTES TIPOS DE DIABETES E AS PESSOAS PROPENSAS A DESENVOLVER A DISFUNÇÃO

A Comunidade Diabetes (www.comunidadediabetes.com.br) entrevistou a médica especializada em endocrinologia e nutrologia, mestre em medicina na área de nutrição e diabetes pela USP, titular da Abran, diretora clínica do Citen, Dra. Ellen Simone Paiva. A doutora aborda os diferentes tipos de diabetes, as pessoas propensas a desenvolver a disfunção, terapia nutricional, consumo de bebidas alcoólicas, importantes precauções e promoção à saúde e bem estar.
Comunidade Diabetes - Qual a diferença entre diabetes tipo 1 e diabetes tipo 2? Ellen Paiva - O diabetes tipo I acomete principalmente a criança e o adulto jovem. Nele, o paciente pára de produzir insulina e depende da suplementação de insulina exógena. O diabetes tipo II acomete sobretudo o adulto de meia-idade, ou seja, a partir dos 40 anos. Nele, o paciente produz insulina, mas ela não tem efeito normal, o que gera produção anormalmente elevada de insulina. Nos dois tipos há aumento da glicose sanguínea. No primeiro por falta de insulina, no segundo por resistência à ação da insulina. Esses são os padrões mais comuns. Muita coisa tem mudado nesses padrões, e o paciente com diabetes tipo II pode passar a depender de insulina, pois há uma progressiva falência na produção de insulina nesses pacientes que estão vivendo mais, passando do tipo II ao tipo I. Além disso, tem sido cada vez mais freqüente encontrarmos casos de crianças obesas que têm evoluído com resistência à ação da insulina e diabetes do adulto, aquele do tipo II.
Comunidade Diabetes - A maior incidência do diabetes prevalece a partir de que idade?
Ellen Paiva - O tipo mais comum de diabetes, o tipo II, tem relação com o ganho de peso e hábitos sedentários, além do fator genético. Ele ocorre com maior freqüência no paciente de meia-idade, ou seja, a partir dos 40 anos. Isso tem mudado, provavelmente relacionado ao avanço da obesidade nas fases mais precoces da vida. O diabetes tipo I ocorre principalmente na criança e no adulto jovem.
Comunidade Diabetes - O problema é hereditário?
Ellen Paiva - A hereditariedade é vista principalmente no diabetes tipo II. O tipo I ocorre mais de forma isolada, embora possa, como outras doenças auto-imunes, ocorrer de forma hereditária com outros casos de diabetes ou de doenças auto-imunes, como artrite reumatóide, lupus, vitiligo, tireoidite auto-imune, dentre outras doenças.
Comunidade Diabetes - O que diabetes gestacional?
Ellen Paiva - O diabetes gestacional é a alteração das taxas de açúcar no sangue que aparece ou é detectada pela primeira vez durante a gravidez. A doença pode persistir ou desaparecer depois do parto. A terapia nutricional é um aliado importante da gestante que tem diabetes. Para muitas mulheres, é suficiente para manter a glicemia dentro dos valores recomendados pelo médico. Na gravidez, a mulher deve ganhar um mínimo de peso, em geral entre 10 e 12 quilos para mulheres que estão com o peso adequado. Suas escolhas alimentares devem ser saudáveis. Entre os objetivos da terapia nutricional pode constar também um limite para ganhar peso, recomendado às mulheres obesas. Isso é imprescindível, porque é mais freqüente que mulheres obesas desenvolvam diabetes durante a gestação. O ganho de peso máximo recomendado para essa situação é em torno de 6 a 8 quilos.
Comunidade Diabetes - Qual a principal recomendação nutricional que deve ser seguida pelo paciente diabético?
Ellen Paiva - A orientação nutricional dos pacientes com diabetes se aproxima muito daquela direcionada às pessoas sem a doença, da mesma idade e sexo. Quando o médico restringe as calorias das dietas do paciente com diabetes, está tratando a obesidade desse paciente, e não o diabetes. Quando restringe a ingestão de gorduras, está mirando os distúrbios do perfil lipídico, e não o diabetes. Quando o endocrinologista ou a nutricionista recomenda a ingestão de proteínas de 15% a 20% do valor calórico total, não está fazendo nada de diferente em relação à prescrição de dietas para pessoas sem diabetes.
Comunidade Diabetes - Quais os princípios que devem nortear a dieta do paciente diabético?
Ellen Paiva - A primeira preocupação da dieta do diabético é o valor calórico dessa. Se ele tem peso normal, as calorias serão calculadas para manter o peso, ou seja, em média 1.800 calorias para uma mulher jovem e 2.500 para um homem jovem. Esse cálculo é variável, na dependência de o paciente praticar ou não exercícios físicos. Se o paciente tem sobrepeso ou obesidade, o médico ou a nutricionista geralmente calcula um déficit calórico de cerca de 500 a 700 calorias. Previsto o chamado valor calórico total, nós passamos ao cálculo das proporções dos macronutrientes. De acordo com a maioria das associações mundiais de diabetes, nós recomendamos cerca de 50% a 60% de carboidratos, de 15% a 20% de proteínas e o restante de gordura.
Comunidade Diabetes - E em relação às restrições alimentares, o que é válido seguir?
Ellen Paiva - O maior tabu na dieta dos diabéticos já caiu por terra há muito tempo: o de que eles não podem comer carboidratos. Eles podem, inclusive, comer os “temidos” açúcares simples, como a glicose, a frutose e até a sacarose, com moderação e sob orientação.
Comunidade Diabetes - Por que o paciente diabético deve ter moderação ao consumir frutas?
Ellen Paiva - As frutas, muitas vezes, são uma armadilha para a dieta dos diabéticos. É comum o paciente classificá-las como alimentos muito saudáveis, que podem ser ingeridos à vontade. Na verdade, não podem. Assim como os não-diabéticos, eles devem consumir em média quatro porções de frutas por dia, pois, apesar de muito saudáveis, as frutas são calóricas e podem dificultar a perda de peso nos obesos e a titulação da insulina nos pacientes insulino-dependentes devido aos altos teores de carboidratos, especialmente frutose e sacarose.
Comunidade Diabetes - E em relação ao consumo de doces, é permitido em que ocasiões?
Ellen Paiva - Os doces não devem ser abolidos de seus cardápios, a menos que o paciente esteja descompensado ou obeso, bem como no caso dos não-diabéticos. Doces gordurosos devem ser restringidos quando ocorrer elevação das gorduras do sangue, assim como nas pessoas não-diabéticas. É importante lembrar que os doces devem substituir uma porção de carboidratos da refeição e não serem adicionados a ela, pois, dessa forma, o paciente estará ingerindo uma quantidade calórica superior a suas necessidades e ganhará peso, tanto diabéticos quanto não-diabéticos.
Comunidade Diabetes - Um paciente diabético pode consumir bebidas alcoólicas?
Ellen Paiva - O consumo do álcool não precisa ser abolido do cotidiano do paciente com diabetes compensado. A ingestão segura é de até duas doses diárias para o homem e até uma dose para a mulher, o que representa uma média de 15 ml a 30 ml de álcool.É importante lembrar que eles nunca devem ingerir álcool sem comer, devido ao risco da hipoglicemia, e que o álcool fornece cerca de 7 calorias por ml consumido. Essas orientações não são aplicáveis aos pacientes com diabetes descompensado e àqueles com triglicérides elevados ou com risco de abuso ou dependência, pois nesses o álcool tende a agravar o controle metabólico.
Comunidade Diabetes - Quantas refeições o paciente diabético deve fazer por dia?
Ellen Paiva - A orientação nutricional para esse paciente deve prever três refeições e dois ou três lanches. Esses lanches também podem ser negociados com o paciente, uma vez que dependem de sua fome, preferências e disponibilidade. Até o rigor nos horários das refeições dos diabéticos tem sido reduzido, uma vez que, no mercado, estão disponíveis drogas orais que podem ser tomadas minutos antes das mesmas e até insulinas que fornecem a cobertura basal, independentemente das refeições, e insulinas de ação rápida, que cobrem apenas a refeição em questão.
Comunidade Diabetes - Pacientes diabéticos devem consumir alimentos diet ou light? Qual a diferença entre esses dois grupos?
Ellen Paiva - Os alimentos diet e light são uma alternativa para variar a alimentação. Diet são alimentos produzidos para atender às necessidades específicas de indivíduos. Para o portador de diabetes, o alimento dietético não deve conter açúcar. Lights são alimentos modificados que devem ter uma redução de no mínimo 25% de alguns de seus componentes, comparados ao produto convencional, como açúcar, gordura, proteínas e sódio (sal).
Comunidade Diabetes - Como o paciente deve controlar o diabetes?
Ellen Paiva - No caso do diabetes tipo I, o paciente deve ser controlado com dieta apropriada e insulinização, realizando a monitoração diária das glicemias. No diabetes tipo II, os maiores desafios são o controle do peso e a prevenção das doenças cardiovasculares, principalmente o infarto e o derrame. Nesses pacientes, o controle exige uma busca eterna pelo peso ideal e sua manutenção. Além da dieta, esses pacientes podem fazer uso de grande número de medicamentos que tendem a facilitar seu controle glicêmico, controlar seu peso e fazer a devida prevenção das doenças cardiovasculares. Nos dois casos, a realização de exercícios físicos revela-se o maior aliado na busca pelo controle ideal, facilitando a ação da insulina e reduzindo muito a dose dos medicamentos. Essa busca incessante pelo bom controle metabólico requer que se dê muita atenção à orientação do paciente com diabetes para que ele seja capaz de entender como seu organismo reage a essa doença, possibilitando que ele viva e seja feliz, apesar das limitações impostas pela doença.
Comunidade Diabetes - Na opinião da senhora, quando o paciente deve procurar fazer exames para saber se tem diabetes ou não?
Ellen Simone Paiva - Milhões de pessoas diabéticas, hoje, já têm alterações que possibilitam o diagnóstico precoce da doença, mas não sabem ser diabéticos. Não há sintomas. Os exames têm alterações muito sutis e o açúcar sanguíneo em jejum pode ser normal. Quanto mais cedo for feito o diagnóstico, mais precocemente o paciente poderá estar livre de complicações crônicas, como o infarto, o derrame cerebral, as lesões de retina e a insuficiência renal. Ele precisa ser informado sobre suas reais oportunidades de tratamento e que sua vida pode ser produtiva e feliz, apesar da doença. Somente assim ele não sofrerá tantas restrições e inseguranças em realizar seus exames. A prevenção do diabetes também é possível e deve ser implementada nos pacientes de risco, com elevadas taxas.
Gabriela Rachan

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