sexta-feira, 1 de agosto de 2008

O PARADOXOS DA LEI SECA
O Blog recebeu este e-mail de um leitor que nos pediu para divulgá-lo e provocar uma discussão sobre essa temática. Pois entao: "No mundo em que vivemos, atitudes corretas e honestas como a Lei Seca, de tolerância zero de bebida alcoólica para dirigir veículos pode ser considerada um exemplo muito bem colocado na carta de número sete do baralho do Tarô (representando o diabo), definindo que os fins justificam os meios: menos alcool resulta em menos acidentes. Mas Issac Newton já nos dizia em sua terceira lei que 'toda ação provoca uma reação de igual intensidade e em sentido contrário', ensinando com isso que antes de reagir devemos agir, levando em consideração o desdobramento que uma ação poderá causar em outras áreas da sociedade, neste caso da saúde. Portanto, as autoridades implantam com todo o rigor a Lei Seca conseguindo reduzir os acidentes de trânsito, mas esquecendo discutir com outras áreas do ministério da saúde as conseqüências que a redução do número de acidentes poderá ocasionar problemas na captação de órgãos para transplantes. A Lei Seca é necessária e deve continuar a ser aplicada com rigor, mas por falta de uma discussão estratégica das ações coordenadas na saúde pública, o ministério da saúde está permitindo que se crie um cenário no qual, não demora, a oferta de órgãos para transplantes estará consideravelmente diminuída. Como resultado, já no mês de julho a captação de órgãos no Rio de Janeiro caiu pela metade. Somente quatro transplantes de fígado foram realizados em trinta dias. Parece contraditório e até trágico, mas a captação de órgãos para realização de transplantes está diretamente ligada ao numero de acidentes de transito, já que indivíduos poli traumatizados são os candidatos a evoluir para a morte cerebral. Se após trinta dias da implementação da Lei Seca estamos comemorando a redução de acidentes e do número de mortes no transito, daqui a poucas semanas estaremos observando o aumento de mortes nas filas de espera por órgãos para transplantes, óbitos que numa analise fria das estatísticas deveremos debitar do sucesso da Lei Seca. Não somente é necessária a imediata realização de campanhas que incentivem a doação de órgãos, mas o momento é altamente propício para de vez por todas implementar sistemas de captação nos hospitais de emergências. A lei de transplantes determina que cada unidade hospitalar de emergência deverá possuir uma comissão intra-hospitalar para a captação de órgãos. Cabe a esses profissionais observar a entrada de feridos e acompanhar aqueles que apresentem maior possibilidade de evoluir para a morte cerebral. Os familiares desses pacientes devem receber informações sobre o critico estado de saúde, dos exames que estão sendo realizados, dos esforços para tentar evitar o agravamento do quadro clínico e, se desafortunadamente o desenlace é a morte cerebral, então, a família deverá ser abordada sobre a vontade da doação dos órgãos. Com emergências lotadas, hospitais que não possuem as comissões intra-hospitalares são deficientes no atendimento aos familiares dos pacientes que ingressam nas emergências e somente abordam as famílias no momento da morte cerebral. Esta se constitui na principal causa de recusa em autorizar a doação, pois a maioria dos familiares relata que foram ignorados durante o período de internação, não recebiam informações e somente na morte cerebral foram procurados para saber se concordam em autorizar a doação dos órgãos. Neste momento, com o número menor de acidentes os profissionais que trabalham nas emergências passam a dispor de maior tempo para dedicar-se aos pacientes e às famílias. Pode ser o momento oportuno para capacitar os profissionais e implementar as comissões intra-hospitalares. Em alguns hospitais poderá até ser possível se reservar um leito de UTI exclusivo para a manutenção dos pacientes com morte cerebral aguardando a doação. Para evitar a reação descrita por Isaac Newton na lei da física, deveríamos seguir uma das famosas e ecléticas sentenças pragmáticas sobre aspectos da vida de Benjamim Franklin, o qual afirmou só conhecer duas certezas na vida: os impostos e a morte. A lei Seca não é um imposto, mas tal qual um imposto a origem é do governo. Devemos atuar rapidamente para que a segunda certeza de Benjamim Franklin não aconteça, evitando dessa forma a morte daqueles que esperam um transplante de órgãos para sobreviver". Carlos Varaldo

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