sábado, 31 de maio de 2008

CÉLULAS TRONCO
Interessante as observações, análises e opinião do jornalista Paulo Henrique Amorim, postada em seu blog, sobre a votação, acontecida ontem no STF, sobre a constitucionalidade das pesquisas utilizando as células-tronco embrionárias. O jornalista questiona vários pontos, mas que tem como principal viés o voto do Ministro Gilmar Mendes, que estava no exercício da presidente da Suprema Corte. Transcrevo suas análises logo abaixo. 30/05 - 15h30
CÉLULAS-TRONCO: ANATOMIA DO VOTO DE MENDES

Paulo Henrique Amorim "O Presidente Gilmar Mendes (provisoriamente no exercício da Presidência do Supremo Tribunal Federal) voltou sobre a constitucionalidade das pesquisas com células-tronco embrionárias de forma que merece análise. O Presidente (do Supremo) não precisava votar.. A maioria de 6 votos já garantia a constitucionalidade da Lei de Biossegurança.. Por que votar o Presidente?. O que revela o seu voto?. É o que o Conversa Afiada tenta responder.. O Presidente votou, primeiro, para prestigiar a sua tese de que o Supremo – ou ele, o Presidente – é o Legislativo.. O Presidente fez uma longa peroração inicial para explicar que, por ele, fecha-se o Legislativo e ele – o Presidente – legisla.. O Supremo é “a casa do povo” – disse o Presidente.. (Pensava que era o Congresso...). O Supremo é um “espaço democrático”. . O Supremo é mais “idealista” que o Legislativo – disse o Presidente.. Porque o Legislativo é escravo das “emoções” – e o Supremo é a instância da “racionalidade”.. O Legislativo – disse o Presidente – se submete às relações de poder – o Supremo, não!. (O Supremo se submete ao PiG, disse o Ministro Lewandowski). O Supremo – diz o Presidente – é a instância de “reflexão”.. O Supremo, portanto, segundo seu Presidente, é sede da “República” de Platão.. Desde Atenas que filósofos e idealistas tentam construir a “República” de Platão – sem sucesso.. O próprio Platão, quando se transformou em marqueteiro e tentou vender sua “República” a um rei, saiu fugido, antes que sua cabeça fosse separada do pescoço.. O Presidente (do Supremo) transformou os onze ministros do Supremo em reis filósofos – ele, é claro, no papel de Péricles.. Estabelecido que ele, Mendes, é o Legislativo, ele, o Presidente, passou a examinar a questão em pauta; a Lei de Biossegurança é constitucional ou não.. Aí, o voto desnecessário do Presidente – que, antes de ser lido já estava em minoria – se prestou a tentar provocar uma reviravolta, no tapetão.. Mendes, é claro, achou a lei proveniente do Legislativo uma irremediável porcaria.. Por que não uma Central Única – uma CUT – para garantir que os cientistas brasileiros – um conjunto de néscios e /ou de Franksteins – respeitassem padrões éticos?. “A manipulação genética existe exige nova ética.” – disse o Conselheiro Acácio, que ocupa a Presidência do Supremo.. “A Lei brasileira é insuficiente.” – bradou.. “Precisamos de um Comitê Central de Ética.” – exigiu o Presidente.. Temos que copiar a Alemanha! E a Espanha!. Tratava-se de irremediável tolice.. Foi o que provou o Ministro Cezar Peluso, que tomou a palavra em seguida.. A Legislação brasileira – exemplar, orgulho dos brasileiros que não são candidatos a Presidente da República – confere a duas respeitáveis instituições a tarefa de zelas pela “nova ética”.. Lembrou o Ministro Peluso que o Conselho Nacional de Saúde e o Comitê Nacional de Ética têm exatamente essa função.. A função de autorizar, dar normas, proibir e interromper pesquisas e, até, aprovar o nome dos pesquisadores que trabalhem em pesquisas de células-tronco embrionárias.. O Conselho é o “órgão último do sistema” – disse o Ministro Peluso.. O Brasil não precisa de uma CUT genética.. O que entender, então, do voto do Presidente Mendes ? Hipótese 1: ele deu um voto inepto, porque de novo ignorou a lei brasileira sobre a matéria.. Ele entende muito de Alemanha, mas nada de Brasil – é o que se entende da declaração do Ministro Peluso!. Ou, hipótese 2: o Ministro- Presidente (do Supremo) quis ganhar no tapetão.. Os votos da minoria – minoria de 5 contra 6, é bom lembrar, sempre – eram ambíguos.. Falavam que a Lei da Biossegurança é constitucional, MAS, MAS, falta isso, falta aquilo.. E já no noticiário da véspera, o PiG – que não costuma entender nenhuma questão um pouco mais complexa – ficou em dúvida: a lei é constitucional, mas só pode ser aplicada se atender às solicitações dos Ministros que compõem a minoria?. Dúvida cruel.. Dúvida que só aumentou com o voto do Presidente (do Supremo): quer dizer que a lei só vale se houver a Central Única – a do Ministro e, não, a que já existe?. Como é que fica?. O Presidente Mendes instaurou o caos – porque é o Presidente e porque foi o último a votar. . Até que se ouviu a voz da luz e da razão. Do Ministro Celso de Mello.. A MAIORIA de 6 votos decidiu que a lei é constitucional e basta – disse Mello.. Não tem mais nem meio mais.. O Supremo NÃO é Legislativo nem o Executivo – disse Mello.. Se o Legislativo e o Executivo quiserem ler e dar atenção às sugestões dos Ministros da MINORIA, isso é decisão deles – disse Mello.. O papel do Supremo era julgar a constitucionalidade da lei e a MAIORIA decidiu que a lei é constitucional.. O Presidente Mendes recolheu o tapetão e proclamou a vontade da MAIORIA.. Em tempo 1: o voto do Ministro Carlos Alberto Direito – responsável pelo atraso na votação – é uma obra prima de obscurantismo. Como diz a cientista Lygia Pereira (clique aqui para ler ), as opções “científicas” que ele ofereceu significariam, na verdade, o fim das pesquisas, mais ortodoxo que o católico autor da Adin – o ex-procurador Cláudio Fonteles –, Direito deu uma no cravo e outra na ferradura – ficava bem na foto, porque se disse a favor da pesquisa – e ao mesmo tempo a tornava inviável. O Ministro Direito tem a “Opus Dei” nas suas células-tronco.. Em tempo 2: Ministros do Supremo agora pensam que são renomados cientistas, teólogos ou filósofos. Ministro do Supremo julga a constitucionalidade de leis. Quem discute a origem e o fim da vida é teólogo e filósofo.. Em tempo 3: O Jornal da Globo, como sempre, esteve tão perto do que aconteceu na sessão do Supremo quanto William Waack está de Marte. O repórter Heraldo Pereira informou que o momento “Fiat Lux” da sessão foi o voto do Ministro (?) Marco Aurélio Mello. E reproduziu um truísmo enfadado do Ministro (?) Mello. É assim que se faz uma fonte. E se dá notoriedade a quem não merece..

Em tempo 4: A TV Justiça é um câncer. Os “repórteres” não sabem do que falam. As “reportagens” são inúteis. A TV Justiça só serve para transformar Ministros da Corte Suprema em estrelas de tevê. Alguém já viu uma câmera aberta na Corte Suprema da Inglaterra ou dos Estados Unidos? A TV Justiça é outra contribuição brasileira à civilização ocidental".

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